Solana Sierra faz história em Wimbledon com um treinador português

LONDRES — Solana Sierra tornou-se na primeira mulher a chegar à quarta ronda de Wimbledon como lucky loser na Era Open e celebrou o feito abraçada a Miguel Fragoso. O treinador português está há quase um mês em Londres com a tenista argentina e pouco depois da histórica vitória desta sexta-feira por 7-5, 1-6 e 6-1 contra Cristina Bucsa falou, em exclusivo ao Raquetc, sobre o momento mais alto da carreira e a década passada a trabalhar em Espanha, desde os tempos na academia de Juan Carlos Ferrero às funções atuais na academia de Rafael Nadal.

“São muitas emoções juntas, muitos pensamentos. Esta é a nossa quarta semana em Londres, já sentimos de tudo e estamos a aproveitar” admitiu, ainda emocionado e com a voz roca, no início de uma conversa-caminhada entre o Court No. 2 — para onde foi logo a seguir estudar a próxima adversária, que acabou por ser Laura Siegemund — e o Media Center.

O treinador português de 35 anos mudou-se para Espanha em 2014, passou cinco anos na academia de Ferrero, em Valência, e atualmente é o Lead Coach do grupo feminino de sub 18 na academia de Nadal, em Manacor. Sierra juntou-se ao projeto em março e a ligação a Fragoso cresceu quando viajaram juntos até Roma, em junho. “Era para ser outro treinador [Daniel Gomez], mas ele acabou por não poder e fui eu. Depois voltei a viajar com ela para o WTA 125 de Valência e agora para Wimbledon.”

Com um enorme sorriso, o treinador descreve-a como “uma pessoa feliz, muito divertida e super humilde, do mais humilde com que já me cruzei na vida.”

Por isso, admitiu ter a tarefa relativamente facilitada na hora de manter os pés bem assentes na terra apesar do brilharete em Wimbledon: “No dia a seguir a perder no qualifying treinou como se tivesse entrado no quadro principal, por isso na cabeça dela esteve sempre preparada. Eu disse-lhe que íamos prepararmo-nos para Wimbledon e que se não entrasse ia para Newport e ela teve essa mentalidade. É isso que me deixa mais emocionado, ver que o esforço dela é recompensado. Mas não há muito tempo para ficar com esta alegria, são uns minutos no ginásio enquanto está na bicicleta porque depois recomeça tudo outra vez. Sabe desde o início que isto ainda não acabou.”

“No ano passado ela fez um jogo em relva, este ano mais seis, portanto agora vamos para o oitavo. Ou seja, não é favorita em nenhum. Hoje jogou com a Bucsa e não era favorita, porque ela entrou direta no quadro e a Solana perdeu no qualifying. Tem sido um processo de retirar-lhe a pressão para que não pense nisso. Há muita distração, a imprensa argentina muitas vezes fala-lhe dos recordes e eu lembro-a de que já perdeu neste torneio. Teve uma segunda oportunidade e está onde está porque mereceu, mas já perdeu. Tentamos cortar essa pressão e ficar focados em jogar”, acrescentou Fragoso.

E se Sierra fez história ao tornar-se na primeira mulher a alcançar os oitavos de final de Wimbledon como lucky loser, o que retira o português desta campanha? “Já é, claramente, o momento mais alto da minha carreira. Sem desvalorizar os outros, Wimbledon é Wimbledon e vir aqui ao qualifying já seria um momento alto .Depois chegar à primeira semana, passar uma ronda, passar a segunda e agora a terceira… isto também mostra que Portugal é bom, pode ser uma forma dos outros treinadores verem que lá fora também podem fazer coisas e abrir um bocadinho as portas.”

Seguem-se os oitavos de final, já no domingo. Com história a ser feita também em português.