Outubro de 2023, Beatriz Haddad Maia, Laura Pigossi, Luisa Stefani e uma semana memorável para o tênis feminino brasileiro

0
452
tenis feminino brasileiro

Outubro de 2023, Beatriz Haddad Maia, Laura Pigossi, Luisa Stefani e uma semana memorável para o tênis feminino brasileiro

Em outubro de 2023, duas importantes competições foram disputadas em datas coincidentes, os Jogos Pan-americanos de 2023, em Santiago, Chile e o WTA Elite Trophy de 2023, em Zhuhai, China. Cada qual com um critério distinto para a definição dos participantes e com detalhes um pouco complexos nos regulamentos, principalmente nas duplas.

Em linhas gerais, basicamente para a disputa de simples, as onze tenistas, entre as posições 9 e 19 do Ranking Mundial da WTA, tinham o direito de participar do WTA Elite Trophy, que por sua vez tinha a faculdade de convidar uma tenista para totalizar as doze participantes. Nos Jogos Pan-americanos, a participação das tenistas dependia de uma convocação do comitê olímpico nacional de cada país, mas de acordo com os critérios do regulamento dos Jogos Pan- americanos. Entretanto, quando o assunto é dupla, era mais complexa a compreensão, pois os regulamentos dos Jogos Pan-americanos e do WTA Elite Trophy, de certa forma, privilegiavam tenistas de simples. Nos Jogos Pan-americanos, pelo menos um integrante das duplas deveria ser simplista, enquanto no WTA Elite Trophy um número de vagas foi reservado para tenistas participantes da chave de simples, e foi determinado que a chave de duplas teria apenas seis duplas participantes, sendo duas duplas convidadas pela organização.

Beatriz Haddad estava habilitada a participar dos Jogos Pan-americanos e do WTA Elite Trophy, mas por causa do conflito de datas, somente seria viável participar de um deles e sua escolha foi o WTA Elite Trophy.

Desde muito nova, com 15 anos, Bia Haddad já jogava na seleção brasileira principal, e desde o princípio, na maioria das vezes, Beatriz Haddad esteve disponível para jogar pela equipe nacional.

Anteriormente, Bia Haddad já havia participado dos Jogos Pan-americanos, foi em 2015, na edição sediada em Toronto, no Canadá. Na ocasião, Beatriz Haddad teve dificuldades com lesão, foi eliminada na primeira fase da chave de simples e foi quarto lugar na chave de duplas. Não conseguiu jogar a disputa da medalha de bronze por contusão.

Quatro anos depois, nos Jogos Pan-americanos de 2019, Beatriz Haddad decidiu não participar. Na época, Bia disse: “Foi uma decisão muito difícil de tomar. Representar o Brasil é sempre uma prioridade para mim, mas dessa vez tive que agir com a razão e não jogar o Pan. Desejo sorte a todos os atletas, especialmente aos tenistas.” O Brasil não conseguiu medalhas no tênis dos Jogos Pan-americanos de 2019.

WTA Elite Trophy de 2023

O Hengqin International Tennis Center, em Zhuhai, sediou, em quadras de piso duro, o WTA Elite Trophy de 2023.

Imagem panorâmica do Hengqin International Tennis Center .
Imagem panorâmica do Hengqin International Tennis Center . Créditos: Huafa Sports
Huafa Center Court, a quadra central do Hengqin International Tennis Center em Zhuhai
Huafa Center Court, a quadra central do Hengqin International Tennis Center em Zhuhai. Créditos: Wikipedia

O torneio foi disputado de 24 a 29 de outubro, teve premiação total de US$ 2,409,000 e contou pontos para o Ranking Mundial da WTA.

Logo do WTA Elite Trophy
Logo do WTA Elite Trophy. Créditos: WTA

Brenda Perry, que era a codiretora do torneio, estava contente pela competição voltar a ser disputada depois de quatro anos sem ser realizada: “É fantástico, pela primeira vez em quatro anos, receber de volta em Zhuhai as jogadoras de elite do tênis profissional de todo o mundo e da China. Essas jogadoras conquistaram o direito de competir no prestigioso WTA Elite Trophy, em Zhuhai, uma conquista muito especial alcançada por apenas algumas! Esperamos nos unir à população de Zhuhai e da província de Guangdong para dar as calorosas boas-vindas a essas atletas internacionais de elite.

Imagem promocional do WTA Elite Trophy de 2023
Imagem promocional do WTA Elite Trophy de 2023. Créditos: WTA

Na primeira fase da competição, as doze tenistas participantes foram divididas em quatro grupos com três componentes. Apenas a primeira colocada de cada grupo se classificaria à fase seguinte, a semifinal.

O grupo de Beatriz Haddad Maia tinha Madison Keys, dos Estados Unidos, e Caroline Garcia, da França.

Bia Haddad venceu Madison Keys por 2×0 (6-4 e 6-4) e Caroline Garcia por 2×0 (6-1 e 7-6). Desta forma, Beatriz Haddad ficou na primeira posição de seu grupo e se classificou à semifinal.

Sua adversária na semifinal seria Daria Kasatkina, da Rússia, a primeira colocada do grupo que tinha Barbora Krejčíková, da República Tcheca, e Magda Linette, da Polônia, que terminaram respectivamente na segunda e terceira posição do grupo. Daria Kasatkina, que em 2025 passaria a representar a Austrália, venceu seus dois jogos da primeira fase, 2×1 (7–5, 1–6, 6–1) contra Barbora Krejčíková e 2×0 (6–3, 6–4) contra Magda Linette.

A outra semifinal foi entre duas representantes da China, Zheng Qinwen e Zhu Lin, o que assegurava na final a presença de uma tenista do país anfitrião do torneio.

Na primeira fase, Zhu Lin, a convidada dos organizadores, enfrentou duas adversárias russas, com derrota para Liudmila Samsonova, por 1×2 (6–2, 2–6, 1–6) e vitória sobre Veronika Kudermetova, por 2×0 (7–6 e 6–1). Liudmila Samsonova foi a segunda colocada e Veronika Kudermetova a terceira do grupo.

Em seu grupo, Zheng Qinwen venceu Jelena Ostapenko, da Letônia, por 2×1 (6–4, 1–6 e 6–2) e Donna Vekić, da Croácia, por 2×1 (6–4, 6–7 e 6–4). Jelena Ostapenko ficou a frente de Donna Vekić na classificação do grupo.

Na semifinal, Bia Maia venceu Kasatkina por 2×0 (6-4 e 6-1) e Zheng Qinwen venceu Zhu Lin por 2×1 (7-5, 4-6 e 6-1).

A final teve um confronto bastante parelho, com 2 horas e 51 minutos de duração, e Beatriz Haddad Maia venceu Zheng Qinwen por 2×0 (7-6 e 7-6).

Qinwen Zheng esteve em vantagem no primeiro set por 4-2, mas Bia Haddad empatou o set que depois foi decidido no tie-break, quando Bia precisou repelir três set points de Zheng, antes de vencer o set. No segundo set, Beatriz Haddad teve uma vantagem de 3-1, mas dessa vez era Qinwen Zheng que reavia o empate, o que mais adiante trouxe ao jogo um segundo tie-break, novamente vencido por Bia Haddad.

Beatriz Haddad durante a final do WTA Elite Trophy 2023. Créditos AFP

O desempenho de Beatriz Haddad nesse torneio foi um dos mais significativos de sua carreira no tênis, não apenas pelo título, também pelo tênis que jogou.

Beatriz Haddad na premiação de simples do WTA Elite Trophy 2023. Créditos: Lintao Zhang e Getty Images

“Foi uma ótima semana, mesmo do outro lado do mundo, eu me senti em casa! Eu senti uma ótima energia. Obrigada pelo apoio da torcida! É muito bom ver a torcida pelo tênis feminino. Muito obrigada a todos.”, disse Bia na cerimônia de premiação.

O desfile de Bia pelas quadras de Zhuhai continuaria. A população de Macau, próxima de Zhuhai, e onde o português é uma das línguas oficiais, talvez tenha sentido a boa vibração de Bia, tal qual certamente a notou grande parte do público que acompanhou a competição no local ou remotamente pela cobertura da mídia.

Em comparação com a disputa de simples, a fórmula de disputa da competição de duplas foi similar, com a diferença de ter apenas dois grupos com três duplas em cada qual, com as duplas vencedoras dos grupos classificadas a ter passagem diretamente à final do torneio.

Bia Haddad jogou a competição de duplas com Veronika Kudermetova. Na primeira fase, a dupla russo-brasileira venceu Oksana Kalashnikova, da Georgia, e Yana Sizikova, da Rússia, por 2×0 (6–0 e 6–3) e as chinesas Jiang Xinyu e Tang Qianhui por 2×0 (6–3 e 6–3). Oksana Kalashnikova e Yana Sizikova ficaram na terceira posição do grupo e Jiang Xinyu e Tang Qianhui na segunda posição.

A dupla Bia Haddad e Veronika Kudermetova se classificou à final e teve como adversárias Miyu Kato, do Japão, e Aldila Sutjiadi, da Indonésia.

Na campanha da primeira fase, o dueto nipo-indonésio também venceu seus dois jogos. Os triunfos foram diante de Ulrikke Eikeri, da Noruega, e Lyudmyla Kichenok, da Ucrânia, por 2×1

(6–3, 6–7 e 10–6 no match tie-break) e contra as chinesas Wang Xiyu e Xu Yifan, por 2×1 (4–6, 7–5 e 12–10 no match tie-break). A dupla europeia foi a segunda colocada e a parceria chinesa ficou na terceira posição do grupo.

Na final, Bia Haddad e Veronika Kudermetova venceram Miyu Kato e Aldila Sutjiadi por 2×0 (6- 3 e 6-3) e conquistaram o torneio sem nenhum set perdido.

A partida teve duração de 1 hora e 13 minutos. No primeiro set, a única vez que uma dupla não venceu o game de saque foi no sexto game, com Miyu Kato e Aldila Sutjiadi. No segundo set, o placar de 6-3 do set inicial se repetiu, porém, de forma muito diferente, pois foram seis vezes em que a dupla que sacou não venceu o game. Em quatro dessas seis ocasiões, a dupla Beatriz Haddad e Veronika Kudermetova esteve do lado vencedor.

Bia Haddad e Veronika Kudermetova na cerimônia de premiação de duplas. Créditos: WTA

Poucos dias depois, Beatriz Haddad disse: “Acho importante não esquecer que tem que buscar sempre o equilíbrio. A gente acaba elogiando muito quando está tudo bem e quando as coisas não saem como a gente quer, tem que ter um pouco mais de equilíbrio e entender que nós somos seres humanos. Como mensagem ao brasileiro, que a gente buscasse sempre o equilíbrio. Nem sempre tudo é maravilhoso nem as coisas são um lixo quando não estão dando certo.

Os pontos obtidos em Zhuhai foram importantes para Beatriz Haddad que terminou o ano de 2023 na 11ª posição do Ranking Mundial da WTA em simples e na 24ª posição nas duplas.

O desfile de gala de Beatriz Haddad Maia na província de Guangdong incluiu vitórias em todos os jogos e em todos os sets de simples e duplas. Foi a primeira tenista a ter esse desempenho. Bia Haddad também se tornou a primeira tenista da história a ser campeã, ou finalista, do WTA

Elite Trophy em simples e duplas, não somente em uma mesma edição do torneio, mas também no cômputo geral de todas as edições.

Uma semana saborosa para Beatriz Haddad, que de longe, quanto possível, acompanhou e apoiou suas companheiras de seleção brasileira nos Jogos Pan-americanos em Santiago.

Jogos Pan-americanos de 2023

Os Jogos Pan-americanos de 2023 foram sediados em Santiago, Chile, de 18 de outubro a 5 de novembro. A cerimônia de abertura foi no Estádio Nacional de Santiago, na capital chilena. A pira dos jogos foi acesa por Lucy López, atleta de salto em distância, primeira medalhista chilena em Jogos Pan-americanos (prata em 1951) e por Nicolás Massú e Fernando González, históricos tenistas chilenos. A cerimônia de encerramento foi realizada no Estádio Bicentenário Municipal de La Florida, também na cidade de Santiago.

Logo do Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Odepa

Para citar apenas uma pequena amostra dos campeões na competição, o Brasil venceu a medalha do ouro no futebol, no revezamento 100 metros masculino de atletismo, no basquete feminino, no handball feminino, no arremesso de peso com Darlan Romani, no tênis de mesa masculino por equipes e no individual com Hugo Calderano. Os Estados Unidos venceram no basquete de trio (3×3) masculino e feminino, a Colômbia foi campeã no baseball, a Argentina venceu no handball masculino e no basquete masculino, o peruano Lucca Mesinas venceu no surfe, Citlali Cristian, do México, foi a campeã da maratona feminina, o peruano Cristhian Pacheco venceu a maratona masculina, Abraham Ancer conquistou a medalha de ouro no golfe para o México e Santiago Ford, do Chile, foi o campeão do decathlon.

Cerimônia de abertura dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Wikipedia

No tênis masculino, o Brasil teve a medalha de ouro com Gustavo Heide e Marcelo Demoliner nas duplas e a medalha de bronze de Thiago Monteiro em simples.

Facundo Díaz Acosta, da Argentina, foi medalhista de ouro de simples e Tomás Barrios Vera, do Chile, foi o vice-campeão.

A dupla chilena foi a vice-campeã, com Tomás Barrios Vera e Alejandro Tabilo, enquanto a dupla da República Dominicana, composta por Nick Hardt e Roberto Cid Subervi, levou a medalha de bronze.

O tênis foi disputado de 23 a 29 de outubro e teve como palco o Centro Deportivo de Tenis do Estádio Nacional de Santiago. O piso de saibro foi o escolhido pela organização.

Centro Deportivo de Tenis do Estádio Nacional de Santiago. Créditos: Federación de Tenis de Chile

Luisa Stefani e Laura Pigossi, então atuais medalhistas olímpicas de bronze nas duplas, fizeram questão de participar dos Jogos Pan-americanos e representar o Brasil. Luisa estava na 10ª posição do Ranking Mundial de duplas da WTA na semana prévia ao início da competição e recebeu a distinção do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) de portar a bandeira brasileira na cerimônia de abertura, juntamente com o nadador Fernando Scheffer.

Luisa Stefani e Fernando Scheffer, porta-bandeiras do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-americanos de 2023 –
Créditos: Miriam Jeske e COB

“Muito feliz. Então, fui pega de surpresa, mas é uma grande honra, uma grande responsabilidade. Carregar a nossa bandeira, para mim, sempre foi o maior orgulho. Levo isso comigo por onde eu passo. Toda vez que eu tenho a oportunidade de representar o Brasil, meu coração bate mais forte. É um grande privilégio, e, desta vez, ainda carregar nossa bandeira ao lado de tanta gente que nos inspirou, é muito especial. Foi um honra carregar uma bandeira para uma delegação forte com atletas tão renomados e outros de tanto potencial. São momentos que ficam guardados., afirmou Luisa Stefani.

Também vigente medalhista de bronze de duplas em Jogos Pan-americanos, Luisa Stefani, em conjunto com Carolina Meligeni, quatro anos antes nos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima no Perú, já conhecia a sensação de fazer parte do pódio da competição. Na ocasião, Roberta Burzagli foi a treinadora da equipe feminina brasileira.

Em 2023, a equipe feminina brasileira também foi acompanhada na competição por Roberta Burzagli, então treinadora da seleção brasileira feminina e que estava confiante no desempenho das tenistas do Brasil. “As expectativas de medalhas são boas. Temos uma equipe forte e as meninas gostam de jogar com um pouco de altitude. Então, vamos fazer de tudo para buscar novamente o pódio.”

Na chave de duplas o Brasil foi representado pela dupla Laura Pigossi e Luisa Stefani que iniciou a competição pelas quartas de final, com vitória diante de Mell Reasco e Camila Romero, do Equador, por 2×0 (6-2 e 6-3). Na semifinal, vitória contra a dupla chilena de Alexa Guarachi e Fernanda Labraña, por 2×0 (6-2 e 6-3). Na final, vitória de Laura Pigossi e Luisa Stefani contra María Herazo e María Paulina Pérez, da Colômbia, por 2×0 (7-5 e 6-3). Uma campanha sem perder sets e mais um registro no caderno memorável de notas da dupla Lau Lu, ou Lu Lau.

No primeiro set da final, a dupla brasileira teve vantagem de 5-3, María Herazo e María Paulina Pérez conseguiram empatar 5-5, mas Laura e Luisa reafirmaram a liderança no placar para vencer o set por 7-5. No segundo set, o marcador estava empatado em 2-2 até que Laura Pigossi e Luisa Stefani conseguiram abrir vantagem até a conclusão da parcial por 6-3.

Laura Pigossi e Luisa Stefani na final de duplas dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Gaspar Nóbrega e COB

“Estou muito feliz de conseguir esse ouro para o Brasil. Tanto para mim quanto para a Lu representa muito poder vestir as cores do nosso país, me sinto muito feliz com essa conquista.”, disse Laura que jogou a final de duplas horas depois de ter disputado um longo jogo pela semifinal de simples.

Super feliz de conquistar essa medalha de ouro com a Laura, gratificante. Desde o começo buscamos a medalha de ouro olímpica em Tóquio, o bronze valeu como o ouro dentro das circunstâncias. Viemos aqui na missão de buscar esse ouro, mais uma experiência incrível com ela.”, disse Luisa Stefani.

Laura Pigossi e Luisa Stefani no pódio de duplas dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Sergio Llamera

Julia Riera e María Lourdes Carlé levaram a medalha de bronze para a Argentina, com vitória diante de Alexa Guarachi e Fernanda Labraña por 2×0 (6-3 e 6-3).

Antes da conquista de Laura Pigossi e Luisa Stefani em 2023, a medalha dourada anterior conquistada pelo Brasil na competição de dupla feminina dos Jogos Pan-americanos foi com Bruna Colósio e Joana Cortez, em 2003.

O título colocou Luisa Stefani em uma lista expressiva de tenistas medalhistas mais de uma vez nas duplas femininas dos Jogos Pan-americanos. A lista inclui, entre outros, os nomes das brasileiras Maria Esther Bueno, Andrea Vieira e Joana Cortez, da franco-mexicana Rosa María Reyes Darmon, a Rosie Reyes, da porto-riquenha e norte-americana Beatriz “Gigi” Fernández, e das irmãs mexicanas Yola Ramírez e Melita Ramírez.

Luisa Stefani e Laura Pigossi fazem parte da galeria das tenistas medalhistas nas duplas femininas tanto nos Jogos Pan-americanos como nos Jogos Olímpicos.

Antes delas, obtiveram esse feito apenas Rosie Reyes, campeã dos Jogos Pan-americanos de 1955 e 1959, campeã da Olimpíada de 1968 no torneio exibição e vice-campeã no torneio demonstração, María Eugenia Guzmán, do Equador, prata nos Jogos-Pan-americanos de 1967 e bronze na Olimpíada de 1968 no torneio exibição, Pam Shriver, campeã dos Jogos Pan- americanos de 1991 e campeã olímpica de 1988, Gigi Fernández, medalhista de bronze nos Jogos Pan-americanos de 1979, medalhista de prata na edição seguinte, em 1983, e campeã olímpica de 1992 e 1996, e Patricia Tarabini, da Argentina, campeã dos Jogos Pan-americanos de 1995 e medalhista olímpica de bronze em 2004.

Luisa Stefani terminou o ano na 18ª posição do Ranking Mundial de duplas da WTA.

Na chave de simples, o Brasil foi representado por Laura Pigossi e Carolina Meligeni. Ambas iniciaram o torneio a partir da segunda fase e Carol Meligeni foi quadrifinalista.

Se na chave de duplas Laura jogou um tênis de fibra com diversas pitadas de categoria, não foi diferente na chave de simples, onde foi preciso ainda mais bravura.

Laura Pigossi, no jogo da segunda fase, venceu Valentina Cruz, de El Salvador, por 2×0 (6-0 e 6- 0). Nas oitavas de final, a oponente foi Lucciana Peréz Alorcón, representante peruana, com vitória de Laura por 2×1 (2-6, 7-5 e 6-4). Nas quartas de final, Laura Pigossi venceu Jamie Loeb, dos Estados Unidos, por 2×1 (7-5, 4-6 e 6-1). Chegar à semifinal significava ter ainda a chance de uma medalha de bronze, no caso de um revés, mas Laura Pigossi garantiu sua medalha ao vencer Julia Riera, da Argentina, por 2×1 (4-6, 6-4 e 7-6). Este jogo também valia a classificação para a Olimpíada de 2024, pois os finalistas de simples masculino e feminino dos Jogos Pan- americanos de 2023 receberiam a vaga olímpica caso os critérios do regulamento da Olimpíada fossem preenchidos. Para citar dois desses critérios, os tenistas deveriam estar entre os 400 primeiros colocados do Ranking Mundial de simples em 10 de junho de 2024, e a vaga do tenista não poderia fazer que se ultrapassasse o limite de cotas de seu comitê olímpico nacional.

A semifinal foi um duelo épico com 3 horas e 13 minutos de duração. Laura Pigossi perdia por 5-3 no terceiro set, mas conseguiu vencer o set no tie-break. “Estou muito feliz com essa passagem para à Olimpíada de Paris, mas ainda quero mais, quero voltar com o ouro dos Jogos Pan-americanos para o Brasil. Uma das coisas que eu brinco é que não tenho tempo para pensar no meu cansaço, curto a energia da quadra central, estou indo, foi um jogo muito maluco, ela fez 5 a 1 no primeiro set, mas foram dois games (perdidos) que tive 40 a 15 e no 5 a 1 encontrei a maneira de jogar. No terceiro set, foram as duas querendo muito essa vaga, foquei em competir. A Luisa Stefani fora da quadra, olhei bastante para ela, temos muito essa conexão, foi a pessoa que consegui buscar forças. Toda a equipe do Brasil foi importante, todos acreditaram no meu sonho. Desde Tóquio 2021 eu falei que queria entrar com meus esforços, Luisa é meu porto seguro, foi igual a uma imã.“, contou Laura ao final do jogo.

Vim para assistir, sabia que a Laura iria ganhar, mas passamos aquele aperto, vai, não vai. Nunca deixei de acreditar, tinha certeza que ela iria lutar, contou bastante a luta, garra e experiência, todo nervosismo de um jogo grande de qualificar para uma Olimpíada. Eu estava tão dentro do jogo que comecei a me emocionar. Sei o quanto ela merece, luta e vir aqui passar pelos perrengues com quase todos os jogos em três sets. Estou muito orgulhosa dela, desejo parabéns.”, relatou Luisa.

Julia Riera venceu a disputa da medalha de bronze contra Rebecca Marino, do Canadá, por 2×1 (3-6, 6-4 e 6-1).

Na final, novamente uma adversária argentina, María Lourdes Carlé, e vitória de Laura Pigossi por 2×0 (6-2 e 6-3).

Laura Pigossi na final de simples dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Sergio Llamera

Contra a Carlé eu tinha jogado duas vezes, então, eu sabia como eu ia ter que jogar. Um fator é que eu estava muito cansada, então eu sabia que meu foco tinha que estar cem por cento em cada ponto, quanto menos pontos eu jogasse, seria melhor e eu acho que, taticamente, foi um jogo perfeito.”, analisou Laura Pigossi, que completou: “Eu coloquei na minha cabeça que eu ia vir para para conseguir três coisas: duas medalhas de ouro e a minha vaga olímpica. E fico feliz de poder sair esta semana com tudo isso. Foi uma semana perfeita. Aprendi muito. Vim para decidida a ganhar minha vaga em Paris e a conseguir a medalha de Ouro no individual e nas duplas, e nada, nem meu cansaço, fez perder meu foco nisso. Aguentar foi a palavra da semana. Hoje não estou me aguentando em pé, vou precisar de uns cinco dias para me recuperar. Mas estou muito feliz, é uma das melhores semanas da minha vida. Esse Ouro é nosso! Espero que essa medalha inspire muitos mais jogadores e jogadoras, principalmente quem queira jogar tênis. O tênis me fez crescer como pessoa e jogadora. É um prazer representar as cores do meu Brasil. Quando entro na quadra pelo Brasil, eu me transformo.

Laura Pigossi celebra a medalha de ouro de simples dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Sergio Llamera

No simples feminino, esta foi a primeira medalha brasileira desde a medalha de bronze conquistada por Andrea Vieira na edição de 1991, ao passo que a medalha de ouro mais recente, até então, era a de Gisele Miró, em 1987. Antes de Gisele Miró, somente Maria Esther Bueno tinha sido campeã de simples na competição, em 1963.

Precedente à medalha de Laura Pigossi, em 2023, o tênis feminino brasileiro tinha obtido medalhas na modalidade simples da competição somente com Andrea Vieira, em 1991, Gisele Miró, em 1987, Patrícia Medrado, em 1975, Maria Esther Bueno, em 1963, e Ingrid Metzner, em 1955.

Das tenistas brasileiras medalhistas em simples e duplas em uma mesma edição de Jogos Pan- americanos, o feito mais recente, até então, era de Andrea Vieira em 1991. Antes de Andrea Vieira, apenas Maria Esther Bueno, em 1963, e Ingrid Metzner, em 1955. Delas, apenas Maria Esther Bueno (1955 e 1963) e Andrea Vieira (1991 e 1995) também obtiveram medalha em uma edição diferente da qual foram duplamente medalhistas (simples e duplas).

Laura Pigossi se tornou a primeira jogadora do tênis feminino brasileiro a ser campeã de simples e duplas em uma mesma edição dos Jogos Pan-americanos. A última tenista, até então, a ser campeã de simples e duplas em uma mesma edição foi Pam Shriver, dos Estados Unidos, em 1991. Antes dela, apenas suas compatriotas Gretchen Rush, em 1983, e Susan Hagey , em 1979, a argentina (posteriormente também espanhola) Mary Terán de Weiss, em 1951, e Rosie Reyes, em 1955. Até então, esta era a mesma lista das tenistas que acumularam o título de campeã de simples e duplas não apenas em uma mesma edição, mas em quaisquer edições dos Jogos Pan-americanos, sendo Rosie Reyes a única a vencer também a medalha de

ouro em uma edição diferente da qual foi duplamente campeã (simples e duplas em 1955), pois em 1959 ela foi campeã apenas de duplas.

Laura Pigossi com a medalha de ouro de simples no pódio dos Jogos Pan-americanos de 2023. Créditos: Alexandre Loureiro e COB

Com a medalha dos Jogos Pan-americanos de 2023, Laura Pigossi também se tornou uma tenista medalhista de Jogos Odesur, Jogos Pan-americanos e Jogos Olímpicos. Laura foi medalhista de bronze nos Jogos Odesur de 2014, em dupla com Paula Cristina Gonçalves, e medalhista olímpica de bronze, em 2021, em dupla com Luisa Stefani. A brasileira se tornou a primeira tenista da história a ser medalhista nesse trio de competições multidesportivas. Um feito expressivo, visto que essas são competições multidesportivas tradicionais, sem pontos para o ranking mundial e sem premiação financeira por parte dos organizadores.

Sobre os Jogos Pan-americanos de 2023, Beatriz Haddad celebrou o desempenho do tênis brasileiro, antes de falar sobre Laura Pigossi: “Eu acho que a gente está em um momento muito especial. A Laura é uma menina que trabalha muito duro, ela é muito disciplinada. Eu acho que da forma como ela encarou toda a carreira dela, abrir mão da zona de conforto para ir morar na Espanha e buscar o sonho dela, eu acho que isso sempre mostrou muito que ela tinha um objetivo e acho que ela merece isso, então fico muito feliz.

Apesar da distância aproximada de 18.700 km entre Santiago e Zhuhai, de alguma forma as cidades estiveram conectadas, nesta semana de outubro de 2023, pela história do tênis e pela boa vibração e alegria das tenistas brasileiras.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here