Quem esteve na Maia a acompanhar de perto a sensacional vitória de Portugal sobre a Polónia tem a perfeita noção do ambiente que se viveu. Claro que caminhar sobre triunfos abre o céu, afasta as nuvens negras e deixa o sol a brilhar, mas ficou a pairar no ar o facto de algo importante ter acontecido. Não foi ‘só’ a permanência da Seleção Nacional no Grupo I Mundial da Taça Davis e a renovação do sonho de chegar às Davis Cup Finals, desta feita em 2023. Foi muito mais do que isso.
O sorriso que dava para ver nos olhos de Rui Machado – a máscara tapava o resto… – na conferência de imprensa de balanço da eliminatória deixou tudo isso bem à vista. O capitão estava orgulhoso, com razão, e visivelmente entusiasmado por saber que o momento é de esperança e de enorme potencial. João Sousa voltou a mostrar a fibra de melhor português de sempre, Nuno Borges mostrou que está pronto para o protagonismo e Francisco Cabral apresentou-se ao lado do amigo Nuno para mostrar que Portugal pode ter uma dupla firme e poderosa. Tudo isto com Gastão Elias, Pedro Sousa e Frederico Silva no tal banco de luxo de que Machado tantas vezes falou.
No futebol tantas vezes se fala das boas dores de cabeça que um selecionador tem. O capitão dos heróis da Davis vai agora saber o que isso é de forma cada vez mais clara, mas deixemos isso para outra altura. É que, com duas eliminatórias por ano, olhar para a Taça Davis pode ser extremamente ingrato para o treinador, para o homem que toma as decisões. Quando se perde, o dedo fica apontado para questionar toda e qualquer opção que tenha sido tomada. Mas, na hora desta vitória, é impossível não destacar a importância de Rui Machado.
Os três primeiros encontros podiam ter caído todos eles para o lado da Polónia. Sousa perdeu subitamente o segundo set e viu-se numa posição complicada, Borges entrou a perder por 5-0 em 15 minutos, Borges e Cabral deixaram fugir o primeiro parcial e viram uma vantagem de 5-1 na terceira partida quase acabar num 5-5. O que uniu todos estes momentos? Rui Machado, sem dúvidas nem assombros, a mostrar que havia um caminho para cerrar o punho e festejar no fim. Não são truques, não é magia, é trabalho e é cuidado.
Uma vez até pode ser sorte. Duas já começa a ser coincidência. Três é prova clara de competência e qualidade. Gerir as expectativas numa seleção com diferentes gerações, em diferentes momentos de forma, é traiçoeiro, mas a ideia que passa é que tudo foi feito de forma harmoniosa. Os tenistas merecem mérito, claro, mas não deixa de ser notável como houve uma cola que juntou todas as peças e fez com que a orquestra tocasse na perfeição durante este fim-de-semana memorável na Maia.
‘Oh Captain! My Captain!’. Eis um trecho de um poema de Walt Whitman, escrito em 1865. Tratava-se de uma obra sobre um capitão de um navio que morria depois de uma longa viagem em que a vitória havia sido alcançada, uma metáfora sobre Abraham Lincoln. Resta-nos dizer que a viagem deste nosso capitão está só a começar e que muitos triunfos há para alcançar. Os momentos de tempestade também vão surgir, mas a Maia trouxe-nos a certeza de que a tripulação está toda junta para reagir à adversidade. E que o João, o Nuno, o Gastão, o Francisco, o Pedro, o Frederico, possam dizer ao Rui ‘Oh Captain! My Captain!’ quando estiverem a ver a bandeira de Portugal nas Davis Cup Finals.